sexta-feira, 25 de julho de 2014

Pessoas ou projetos?

Uma discussão que permeia a comunidade científica e os governos refere-se aos diferentes modelos de financiamento da pesquisa científica. O debate mais intenso centra-se na pergunta do título do post: financia-se um projeto ou a pessoa? Há décadas, o Instituto Howard Hughes (talvez o modelo de maior sucesso entre os principais financiadores de pesquisa no mundo) financia pesquisadores com comprovada produtividade ao invés de projetos. A ideia por trás desse modelo é justamente livrar o pesquisador da árdua tarefa de buscar financiamento.  A grande maioria dos financiadores de pesquisa no mundo não adota esse modelo, mas sim o de financiar projetos. Antes de prosseguirmos, já deixo clara a minha opinião: os dois modelos apresentam vantagens e devem ser usados concomitantemente. O problema principal do modelo usado pelo Instituto Howard Hughes é o viés para pesquisadores mais velhos e estabelecidos.
A última edição da revista Science (25 de Julho) traz uma notícia interessante: o próprio Instituto de Saúde dos EUA (NIH) já busca formas de financiar pessoas e não projetos. Já há anos, o NIH oferece os "Pioneer Awards". O sucesso desse programa fez com que o NIH pensasse em expandi-lo através dos seus muitos outros institutos.
O Brasil poderia aprender com esses exemplos e iniciar algo nessa linha. Hoje, a totalidade do financiamento de pesquisa no Brasil é baseado em projetos e não em pessoas. A única iniciativa que premia a pessoa é a bolsa de produtividade do CNPq, dada  aos pesquisadores mais produtivos do país. Ela dá uma bolsa mensal de R$1.500 ao pesquisador e mais R$ 1.300 como "adicional de bancada" (isso é o que eu recebo como pesquisador 1A). Imaginemos, por exemplo, um programa ao nível federal que financiasse 100 pesquisadores brasileiros a um custo de R$ 2 milhões por pesquisador por 4 anos (R$ 500 mil por ano por pesquisador). O custo total do programa seria na ordem de R$ 200 milhões por 4 anos (R$ 50 milhões por ano). Um montante perfeitamente aceitável baseado no que se gasta atualmente no país em C&T.  Os pesquisadores nesse programa não poderiam buscar financiamento de outras fontes mas teriam total liberdade de usar os recursos em qualquer projeto. Um comitê internacional (imune a corporativismos e critérios políticos) ficaria responsável pela seleção dos pesquisadores e posterior avaliação. 

* No meio da escrita do post, lembrei que o meu então colega no Instituto Ludwig, Andrew Simpson, já havia escrito algo nessa linha em um artigo para a Folha de São Paulo. O artigo de Andy pode ser lido aqui.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Canarinho, 100



 
Me permito um parênteses no tema Biologia/Biotecnologia para comemorar os 100 anos de um ícone do Brasil. Sim, estou me referindo à seleção brasileira de futebol. Há exatos 100 anos, a seleção entrava em campo pela primeira vez para disputar uma partida amistosa contra um clube inglês, o Exceter City. 2x0 para a seleção canarinho, já antevendo um futuro de glórias. Aqueles que me conhecem sabem que torço mais para o São Paulo FC do que para a seleção brasileira. No entanto, não posso deixar de admirar a história construída por  nomes como Pelé, Garrincha, Nilton Santos, Leônidas, Gilmar e Ronaldo. Apesar de termos feito quase tudo errado ao longo desses 100 anos, o resultado é algo admirável. Não sei o porquê?

O que mais doeu nos 7x1 não foi a derrota em si, afinal é só um jogo. Mas sim o placar e a forma patética da nossa equipe. A história da seleção brasileira não merece algo assim.

terça-feira, 15 de julho de 2014

Cadê o tubarão?




Na minha tentativa de saber mais sobre biologia marinha (sou biológo, moro em Natal e faço SUP e mergulho) dei de cara com o site de um projeto mantido pela organização sem fins lucrativos Ocearch. O projeto objetiva o monitoramento de centenas de tubarões ao redor do mundo. Os animais são pescados e mantidos fora da água por 15 minutos. Durante esse período, além da coleta de amostras biológicas, instrumentos de localização são fixados na barbatana dorsal do animal. A cada vez que o animal atinge à superfície do mar, esses instrumentos mandam um sinal (ping) que permite localizá-los em qualquer ponto do planeta.

O mais legal é que o projeto mantém uma página na internet,  onde podemos acompanhar cada um dos animais monitorados. Por exemplo, o último sinal veio de um tubarão-tigre (chamado de Miss Michalove) hoje (15/07/2014) às 8:04h na costa da Carolina do Sul. Não consegui dar uma olhada nos dados dos mais de 80 animais monitorados até agora mas alguns casos são impressionantes. Por exemplo, o animal Rizzilient (um tubarão anequim), foi pescado na costa do estado de Nova York nos EUA no dia 27 de Julho de 2013. Até 10 de Março de 2014, dia do último sinal detectado, o animal havia percorrido cerca de 13.000 Km até a costa de Portugal. De julho até Novembro, Rizzilient ficou nadando perto da costa leste dos EUA. Começou então a travessia do Atlântico. Gastou cerca de 2 meses (Dezembro e Janeiro) em uma área relativamente pequena no meio do Atlântico em uma série de idas e vindas até chegar em Portugal (ver figura abaixo, tirada do site da Ocearch).
 



O mais legal ainda é que o navio da Ocearch encontra-se agora a caminho do Brasil onde irá monitorar animais coletados em Recife, Aracaju, Fernando de Noronha e Natal.