segunda-feira, 28 de abril de 2014

Daniel Alves

Minha forma de apoiar Daniel Alves.



O link para o paper está abaixo (disponível gratuitamente).

http://www.nature.com/nature/journal/v488/n7410/pdf/nature11241.pdf

#somostodosmacacos

sábado, 26 de abril de 2014

A sombra criacionista de Francis Collins



                   Dias atrás recebi por email um convite da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) para a palestra de Francis Collins, diretor do Instituto Nacional de Saúde dos EUA. Depois, fiquei sabendo que Collins também estará dando a palestra de encerramento no evento da Sociedade Brasileira de Bioquimica e Biologia Molecular (SBBq), uma das mais tradicionais sociedades científicas brasileiras. Para quem não o conhece, Collins é um dos principais nomes da ciência mundial. Já era conhecido nos meios médicos e genéticos no final da década de 80 por ter desenvolvido o principal método de identificação de genes associados às doenças. Nos tempos pré-genômicos, isso era uma tarefa quase impossível. Seu método, chamado de “positional cloning” permitiu a ele e seus colaboradores identificar os genes responsáveis por uma série de doenças genéticas humanas incluindo a fibrose cística, a doença de Huntington e a neurofibromatose.  Graças ao sucesso de sua carreira, ele foi convidado para substituir James Watson como diretor do Projeto Genoma Humano. Suas brigas com Craig Venter são famosas. Mais recentemente, ele se tornou nada menos do que o diretor do Instituto Nacional de Saúde dos EUA, controlando um orçamento de 30 bilhões de dólares. 


            Pois bem, uma grande oportunidade de assistir a uma grande palestra científica, não? Depende. Há cerca de 10 anos Collins tem manifestado a sua fé cristã em um série de palestras e entrevistas bem como através do seu livro bestseller “The language of God” (há uma tradução em português disponível no Brasil). Até aí, tudo bem. Tanto em meu livro, A Goleada de Darwin, como em artigos e palestras, eu tenho argumentado que nós cientistas precisamos respeitar a fé dos outros e, assim como Collins, eu acredito não haver nenhum problema em uma pessoa ser cientista e religiosa. Dito isso, eu vejo vários problemas na forma como Collins tem se manifestado. O que me incomoda no seu discurso é a tentativa de dar suporte científico à sua fé. Veja o sub-título do seu livro – “A scientist presents evidence for belief” (traduzido para “Um cientista apresenta evidências de que Ele existe” na versão em português).  Abaixo, o link para uma palestra dada por ele na Universidade da California Berkeley.


            Alguns de seus slides e comentários são perturbadores no sentido que lembram os argumentos de criacionistas do “intelligent design”.  Não estamos falando de Michael Behe ou William Dembsky mas sim de Francis Collins, diretor do NIH e uma das faces mais conhecidas da ciência mundial.  
             
            Collins confunde os seus leitores e ouvintes sobre a natureza das evidências e sobre a natureza do processo científico. Ele diz que a sua crença em Deus é suportada por evidências empíricas da mesma forma que outras evidências suportam a teoria da evolução.

            Eu espero que Collins use o espaço nobre que ele terá no Brasil para discutir Ciência (assim mesmo, com C maiúsculo) e não faça o desserviço de poluir um debate científico com argumentos religiosos.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

And the guinness record goes to.....


           O genoma humano possue cerca de 3 bilhões de nucleotídeos. Outras espécies possuem genomas bem maiores que o nosso. Depois de Copérnico, Darwin e Freud, o último a nos tirar de um pedestal antropocêntrico foi o protozoário Amoeba dubia com um genoma de 670 bilhões de nucleotídeos (ou seja, mais que 200X o tamanho do nosso genoma).  Grandes genomas desafiam os bioinformatas visto que a sua montagem (colocar os pedaços de sequências na ordem correta) é muito difícil.

            Um consórcio americano acaba de publicar* o maior genoma até agora sequenciado, pertencente a uma conífera da família Pinaceae (Pinus taeda). O tamanho do pepino (ou melhor, do genoma da conífera): 21 bilhões de nucleotídeos, cerca de 7X o tamanho do genoma humano.

            Do ponto de vista biotecnológico, a disponibilidade de um genoma referência para um grupo de espécies com apelo para a indústria do papel facilita novos estudos, principalmente os que visam o melhoramento genético dessas espécies.

            Não deixa de ser uma boa notícia para uma quinta-feira de ressaca futebolística, depois da derrota do grande tricolor do Morumbi para o surpreendente CRB. Ainda bem que tem o jogo de volta…..


* Wegrzyn et al. (2014).  Genetics 196: 891-909;  Neale et al. (2014) . Genome Biology 15: R59;  Zimin et al. (2014). Genetics 196: 875-890.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

A receita do bolo



            Um dos editoriais da revista Nature* de 20 de Março toca em um aspecto importante que poderia servir de lição para vários projetos brasileiros. Há cerca de 10 anos, o Instituto Nacional de Pesquisas sobre o Genoma Humano (NHGRI) nos EUA começou um programa cujo objetivo principal seria levar a tecnologia de sequenciamento de DNA a um patamar onde o sequenciamento de um genoma humano custaria US$ 1.000 (mil dólares). Muito próximo de se atingir esse objetivo (hoje o preço de custo é algo em torno de US$2.000-3.000) cabe perguntarmos as razões desse sucesso? O editorial da Nature tenta responder justamente a essa pergunta. Abaixo, a receita do bolo.

-       Definir um objetivo claro: nesse caso, sequenciar um genoma humano por algo em torno de US$ 1.000. Curiosamente, os projetos brasileiros de genômica (que também foram um sucesso) tiveram essa característica. O primeiro projeto de genômica brasileiro tinha como objetivo sequenciar o genoma da bactéria Xylella fastidiosa. O projeto “Genoma Humano do Câncer” (do qual fui um dos coordenadores) tinha o objetivo de sequenciar pelo menos 1 milhão de sequências expressas (fragmentos de genes expressos) em diferentes tipos de tumor. O estabelecimento de um objetivo único e claro gera naturalmente um foco específico para todos os participantes do projeto.
-       Estabelecer um objetivo ambicioso mas não tão ambicioso: se o objetivo é muito ambicioso, ele deixa de ser realista e passa a ser desanimador buscá-lo.
-       Estimular a competitividade: algumas chamadas de auxílio para pesquisa no Brasil obedecem ao mecanismo de “fluxo contínuo”. As propostas são avaliadas à medida que são submetidas sem uma comparação com outras propostas. Isso deveria ser abolido e todas as chamadas deveriam ser comparativas, justamente com o objetivo de se estimular a competitividade.
-       Estimular a interação entre acadêmia e indústria: a forma mais rápida de levar uma descoberta da academia para o setor produtivo é estabelecer uma política de financiamento que valorize a interação entre os dois setores. Nesse aspecto, o Brasil tem feito o seu dever de casa e estabelecido várias iniciativas públicas que fomentam uma interação entre academia e empresas.
-       Assumir riscos: a inovação é um processo arriscado. Uma sugestão implícita do editorial da Nature é que os riscos sejam assumidos pela acadêmia. Os projetos mais criativos, e consequentemente mais arriscados, deveriam ser executados mais frequentemnete ao nível da academia. No caso do programa do NHGRI cerca de ¾ dos auxílios foram destinados à academia para financiar projetos que para a indústria seriam muito arriscados.
-       Ser flexível: No Brasil (e no mundo todo) uma proposta é aceita na sua totalidade (com possíveis cortes financeiros) ou rejeitada. O programa do NHGRI possibilitou que partes de uma proposta fossem financiadas.  Isso é algo que poderíamos copiar no Brasil. Como avaliador de propostas para várias agências de financiamento, frequentemente me deparo com propostas que na sua totalidade não são competitivas mas apresentam uma idéia ou experimento inovador. Se houvesse a possibilidade de financiar apenas aquele experimento ou parte da proposta, isso aceleraria o processo de descoberta e inovação. Talvez aqui resida o principal motivo do sucesso do programa do NHGRI.

* Nature 507:273-274, 2014.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

D+





Foto "roubada" do imperdível blog "Why evolution is true" (http://whyevolutionistrue.wordpress.com/) de Jerry Coyne. A foto é de autoria de Hasan Baglar e é candidata ao 2014 Sony World Photography Awards.

E tem gente que ainda não gosta de Biologia.....

sábado, 12 de abril de 2014

Eu já sabia!


Isso mesmo!! Eu já sabia!!
            Como amante da cor laranja, algo já me dizia que a minha sensação de bem-estar ao interagir com a cor tinha uma base orgânica. E não é que parece haver mesmo. Em artigo publicado recentemente no PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences USA), pesquisadores da Bélgica e da França reportaram o seguinte experimento: expuseram voluntários às cores azul, verde e laranja por 10 minutos e depois os mantiveram no escuro por 70 minutos. Usando abordagens baseadas em imagens do cérebro (fMRI) e testes cognitivos, os autores mostraram que os voluntários expostos à cor laranja tiveram uma maior atividade cerebral em regiões do cérebro relacionados à concentração e cognição.
            Sabe-se já há algum tempo que a luz tem um impacto não-visual no grau de concentração e cognição em humanos. Os autores argumentam que isso ocorre via um pigmento chamado de melanopsina, o qual se tornaria mais sensível quando exposto à luz de comprimento de onda mais alto, o caso da cor laranja. Isso estabeleceria um papel cognitivo para a melanopsina.
            Mas nem tudo é laranja no mundo da melanopsina. Alguns pesquisadores da área, embora considerem os resultados interessantes, lembram que publicações prévias indicavam a cor azul como a mais estimulante. Ou seja, temos que esperar outros trabalhos na área.
            Sob um aspecto mais mundano, os resultados dos pesquisadores belgas e franceses poderiam explicar o entusiasmo da torcida da Holanda em jogos da Copa do Mundo, dado o laranja predominante. Ou não. Talvez o estímulo seja mesmo a presença das loiras holandesas na arquibancada. Se estiverem vestidas de laranja então …..

*http://www.pnas.org/content/early/2014/03/07/1320005111